segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Você escolhe a quem seguir


Fato concreto: meu irmão deixou de me seguir no instagram. Isso, por si só, poderia desencadear em mim diversas perguntas - o que eu fiz? por que? há algo errado? - mas, em vez de questionamentos que nunca teriam respostas (na verdade, teriam e bem sei quais), decidi, desta vez, que era melhor deixar para lá. 

Num mundo ideal, de família perfeita, papai, mamãe, irmãos, cachorro... um "unfollow" poderia muito bem ser o prenúncio de uma crise. Mas, vejamos, que mundo ideal existe hoje? As pessoas já não conversam como há anos, ser "próximo" de alguém virou sinônimo de curtir todas as fotos expostas, as ruas estão em convulsão e cada um quer mais é viver em sua própria bolha, com olhos na tela do celular e dedos prontos para respostas mecânicas. E olha que eu nem entrei no mérito de, por aqui, não haver papai, mamãe nem irmãos perfeitos.

Fato é que meu irmão deixou de me seguir porque não tem interesse no que eu mostro às pessoas sobre mim. Ponto. Assim como, há meses, deixou de me interessar a vida de outros parentes, por motivos diversos, e nem por isso carrego um piano de culpa nas costas. O fato de eu não ser seguido por alguém que, em tese, deveria me amar e se felicitar com minha felicidade faz desse alguém uma pessoa ruim? Não. É só uma questão de afinidade, de visão de mundo, de vibe, sei lá!

Por mais que minha visão romântica-idealista-canceriana de mundo e de relações grite lá no fundo "reaja! reaja!", o que vejo com cada vez mais constância é que estamos entrando (ou já entramos?) numa era de só querer conviver com o que nos parece bonito. O contraditório perdeu espaço (e sentido?) diante de tantas opções de realidade semelhantes àquelas com as quais sonhamos e compactuamos. É mais cômodo que cada um tenha seu próprio universo individual, que configure sua bolha de relacionamentos de modo a nunca se aborrecer ou torcer o nariz.

Me pergunto somente se essa bolha um dia vai estourar ou se, um dia, cada um de nós vai se mostrar disposto a, como antigamente, olhar para o horizonte. Por enquanto, as cabeças inclinadas de olho nas polegadas que cabem na palma da mão parecem interessantes. E depois disso, o que virá? Teremos amigos, parentes, laços de amizade, sensações e desejos que nos façam viver a vida fora do touch screen?

É uma questão de escolha.