terça-feira, 4 de junho de 2013

Nem tudo é sexo

O que faz duas pessoas estarem juntas, serem cúmplices, estarem disponíveis uma para a outra? Mãos dadas, brilho nos olhos, objetivos afins. Toque, ternura. Brigas - sim, brigas! - para uma conciliação posterior. Tudo isso e mais um pouco, creio. E, no "mais um pouco" cabe um caminhão de emoções e confusões.

Para duas pessoas estarem juntas é preciso, antes de tudo, que queiram estar juntas. Foi-se o tempo do casamento arranjado, do namoro no sofá, das amizades por interesses inconfessáveis. Findou-se a época das submissões, da mentira, do gozo fingido para agradar o marido ou da virilidade forçada para não explicitar os desejos íntimos e controversos.

Estar junto exige renúncia. Há de ser pensar que doravante nos tornamos um, mas que esse um ao mesmo tempo é dois - e nem sempre concordantes! Se conjugamos a vida na primeira pessoa do plural, temos que encontrar convergências e, vez ou outra, ir pelo caminho que o outro quer, de mãos dadas. Pizza ou salada de alface? Prefiro massa, mas posso ceder à folhagem se isso me der em retribuição seu sorriso inocente com um verdinho no dente.

Assumir o "nós" exige palavras medidas. Estendo ao máximo a corda que segura a língua ferina, para não lhe desagradar revelando que essa calça não combina ou que sua barriga não está tão sequinha quanto a camisa justa possa suportar. Ao mesmo tempo, finjo não perceber seu deboche implícito e sua reprovação às minhas cantorias no chuveiro.

Optar por uma vida não egocêntrica requer paciência. Para tolerar as horas a mais no trabalho que te impedem de ir ao cinema, para suportar as horas de sol à espera do ônibus para cruzar a cidade e roubar um beijo. Paciência para que o "hoje não" ou o "aí não pode" não virem crises. Paciência para observar um sono infinito nas manhãs que poderiam ser divertidas.

Para duas pessoas estarem juntas é preciso, talvez, que estejam separadas. Que, por estarem longes, reconheçam a falta que uma faz à outra. Que sorriam estando distantes, só por alguma lembrança boba. E, junto de todos esses motivos, acrescento um derradeiro: que a união não seja só sinônimo de sexo. É preciso saber tocar, esperar e entrar pela porta do coração.