quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Vale a pena sonhar

Há cinco anos, eu era um estudante universitário cheio de sonhos. Queria olhar nos olhos das pessoas e desvendar as histórias que escondiam. Desejava rodar o mundo, escrever sobre filmes, ir a boas peças de teatro. Não imaginava quanta estrada tinha à frente.

Em setembro de 2006, pisei pela primeira vez no Centro de Convenções de Vitória. Pela "TV Estácio", que na verdade nunca saiu do papel, fui cobrir o 12º Prêmio Capixaba de Jornalismo. Eu, de camisa social, cabelo cuidadosamente penteado, pernas trêmulas e perguntas decoradas. Queria falar com os vencedores daquela noite, saber o que pensavam, a que dedicavam suas vitórias.

Gabriela Rölke, hoje assessora do Procuradoria da República no Espírito Santo, havia sido a segunda colocada na categoria Jornalismo Impresso. A matéria, salvo engano, era sobre o mensalão capixaba. Pedi a entrevista. Ela negou. "- Não é por nada não, mas não gosto de dar entrevistas". Deu as costas e foi curtir a noite.

Entrevistei Suzana Tatagiba, que foi minha professora e é, até hoje, a presidente do Sindicato dos Jornalistas no Espírito Santo. Também falei com a Priscilla Contarini do Carmo, que havia vencido a categoria Radiojornalismo. Naquela época, eu detestava rádio. Pensava, cá com minha consciência, "- Alguém ainda ouve rádio? Que coisa ultrapassada". Ouvi também a Ilda Castro (foto), que até hoje comanda a festa de premiação com a sua Mile4. Entre um depoimento e outro, fechei a matéria.

Até hoje tenho esse DVD (ao fundo, entre os convidados, vejo gente que hoje trabalha comigo, como Geraldo Nascimento, Abdo Filho, Fábio Botacin). É nítido meu nervosismo ao falar, frente a frente, com jornalistas. Eu queria ser um deles. E naquela noite, lembro-me bem de ter prometido a mim mesmo, que em poucos anos subiria ao palco. E vou subir! Ontem, recebi a notícia mais importante da minha trajetória, até aqui: venci o Prêmio Capixaba de Jornalismo, na categoria... rádio!

O mundo dá voltas. Para quem começou a faculdade sem noção do que era uma rádio de notícias, vivi intensos dias de apuração pela CBN Vitória. Aprendi muito, e em julho deste ano, graças à denúncia de uma mãe de aluno, cheguei até a Escola Estadual Marcílio Dias, no município de Vila Velha.

Lá, a direção havia decidido reunir todos os alunos repetentes numa mesma turma. Ficaram todos conhecidos como "a sala dos reprovados". Foram três dias de apuração, de acordar de madrugada para chegar à escola, ouvir alunos, Ministério Público, Secretaria de Educação. Um trabalho minucioso, mas que, sem dúvidas, me encheu de orgulho.

Mesmo antes do prêmio, já havia valido a pena. A história ganhou repercussão nacional, a Secretaria de Educação interveio e desmembrou a turma. O jornalismo cumpriu sua função. Como sonhei um dia, pude olhar nos olhos daqueles alunos e contar as histórias que ali se passavam.

Vou à festa deste ano com intenções renovadas. Dever cumprido, um sonho alcançado. E ainda mais vontade de, agora no jornalísmo político, desvendar histórias, conchavos, entender os meandros das decisões que mudam a vida das pessoas. E, nas matérias em que não houver final feliz, lutar para que haja, no mínimo, um final digno e justo. É do que o mundo mais precisa.

sábado, 10 de setembro de 2011

Livrai-me do mal

Não adianta. Tem gente que, só de olhar, meu "santo" não bate. Posso tentar sorrir, vez ou outra dar assunto, puxar papo. Mas vai contra mim, é quase uma agressão. Acho que é coisa de anjo da guarda, ou algum sentido muito apurado; fato é que, de longe, consigo perceber gente interesseira, sem caráter e vendida.

Ah, os simpáticos da vizinhança... não me convencem! Começa assim: passa por você no corredor, encosta no ombro. No dia seguinte, encontra no ônibus e puxa um assunto sem pé nem cabeça. Em menos de uma semana, estão te curtindo no Facebook e, invariavelmente, sorriem e demonstram muita felicidade estando ao seu lado. Mas já experimentou surpreendê-los dois passos depois de se cruzarem por aí? O sorriso some. Simples, é falso.

Também não gosto de gente "que fala o que quer". Aqueles tipinhos que, doa a quem doer, são contra tudo e todos, que vociferam verdades próprias mas que, na hora do "pra valer", fogem da responsabilidade. São aqueles que não gostam de fulano, sicrano e beltrano, mas que: "- Ai, por favor, não vá dizer que eu disse isso. Não devo nada, mas não quero confusão". Se escondem nos bastidores da própria fraqueza e usam da língua ferina para agredir pessoas gratuitamente. Os ouvidos? Ah, estes estão sempre obstruídos ao que os outros digam.

Meu santo não bate com gente que fala alto ao celular, que abre as pernas para ocupar dois lugares no ônibus, que masca chiclete de boca aberta e que tem opinião sobre tudo, sobre todos, e força intimidade. Também não tenho paciência com quem diz, de manhã, uma coisa, e à noite age de outro modo. Coerência é charme, é pré-requisito ou, como diz uma amiga próxima, é "afrodisíaco".

Meu santo não bate com gente que acha bonito só falar de autores renomados; não acredito em pessoas que dizem não acompanhar reality shows e tampouco deposito confiança em quem provoca a discussão para, em seguida, dizer "não quero discutir". Não gosto de gente que vasculha os e-mails alheios, que usa de deslealdade em concorrência, que te elogia pela frente para, por trás, tentar puxar o tapete.

Sorte que tenho passos largos e no tapete não me embolo. Sorte que tenho amigos aos quais corro quando estou com dúvidas e medos. Sorte não ter a ingenuidade de outrora para crer que todo sorriso, de fato, é genuíno. Sorte que eu acredito em santos, e a eles recorro para livrar-me do mal.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mamãe do Céu

"Bença Papai do Céu, bença Mamãe do Céu, bença meu anjinho da guarda". Foi assim que aprendi, ainda pequeno, a rezar. Eram as preces mais genuínas e simples que alguém poderia fazer, e ao buscar na memória consigo me lembrar com detalhes da cena: a cama nova, com cheiro de madeira, os brinquedos dispostos na prateleira, a luz amarela iluminando o quarto. E, ao meu lado, vovó. Sempre ela, me ensinando a juntar as mãos, fechar os olhos e "pedir a bênção".

O tempo foi passando e a infância de doenças e internações cada vez me aproximava mais daquele Papai do Céu de cabelos longos e olhos verdes que eu imaginava. Sempre simpatizei com ele, mas era Ela, a Mamãe do Céu, que me encantava. Com aquele manto azul, o semblante tranquilo e os braços abertos para onde eu podia correr - em orações e pensamentos - nas horas de sufoco. Às vezes, sabendo que havia feito algo "que Papai do Céu ia chorar", eu, criança, pedia baixinho a Ela que me ajudasse. Como criança que se esconde de um grande pito.

Mamãe do Céu sempre me valeu. Quando o dente-de-leite demorava a cair, quando a febre me acometia, quando os colegas de sala me perseguiam, quando as contas de matemática não entravam na minha cabeça. Por volta de uns sete, para oito anos de idade, minha tia Rita presenteou-me com uma Nossa Senhora Aparecida feita de um material que "iluminava" no escuro. Quantas vezes peguei no sono admirando aquela luz que se destacava na escuridão do quarto... sentia meu sono velado e dormia feliz.

No início da adolescência, surgiram as dúvidas. Será que Deus existe mesmo? Se existe, por que eu tenho essa vida? Por que Ele nunca me responde? Por que tanto mistério? Havia dias em que, com minha impáfia (um tanto genética), eu desafiava o Criador. "- Se você existe mesmo, então me ajude a tirar nota boa em matemática!". Chegou a tal ponto que, no 1º ano do Ensino Médio, escapei do zero porque a professora me deu 0,5 ponto por ter assinado a prova. Só a misericórdia divina para explicar...

Deixando de lado minhas implicâncias com Deus - e de vez em quando eu bato uns papos sérios com ele -, a Mamãe do Céu, diferente, sempre teve minha preferência. Seja Ela Maria, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Penha, ou até a Desatadora de Nós, que, coitada, deve ter os dedos calejados de tanto desamarrar os nós que eu mesmo arrumo.

Busco no manto mariano o conforto para as horas de dúvidas e o calor nas noites em que o frio atinge a alma. Fecho meus olhos e tento imaginar como serão os olhos dela, lá do céu, me vigiando. Ou, às vezes, me reprovando (porque toda mãe tem seus dias de piti, né?!). E, confesso, não são todas as noites em que rezo. Aliás, têm sido bem poucas. Mas quando o cansaço supera as forças, quando o vazio teima em vencer a fé, já sei a receita de cor: "bença Papai do Céu, bença Mamãe do Céu, bença meu anjinho da guarda".

Amém.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Receita de bolo

É preciso amar com tempo. Com tempo de parar, respirar, olhar no fundo dos olhos de alguém e para dentro de si mesmo. Deixar o relógio do amor platônico girar até cansar-se, ponderar além dos primeiros 30 dias encantamento, assistir aos dias de sol nublarem, a chuva cair torrencial e o solo secar após a enxurrada.

Amor não é momento, é constância. É perceber que além daquele perfume marcante há pele, e amar a pele com manchas, pintinhas, cicatrizes, rugas. É tocar a pele da pessoa amada sem o anseio de que ela sempre arda em paixão. É repousar as mãos sobre ela em alento às horas difíceis. Amar é secar as lagrimas que molham o rosto e beijá-lo com euforia quando o sorriso anunciar a boa-nova, a conquista sofrida e alcançada.

É preciso amar os defeitos sem deixar que eles se sobreponham às qualidades. Adorar um traço de estrabismo quando eles são parte do olhar que te ilumina a alma; venerar as mãos ásperas após um dia de trabalho na roça, se essas mãos (mesmo grosseiras) são as que te afagam com devoção; admirar orelhas de abano que te ouvem com paciência quando todo o resto do mundo parece surdo aos teus murmúrios de dor.

É preciso amar a falta de tempo e valorizar os segundos juntos. É, mesmo após anos, desejar "bom dia" sentindo do fundo do coração o desejo de que aquele dia seja especial para o seu amor. E se o seu dia for difícil, esperar o anoitecer para entregar-se em gestos e palavras, a quem abrirá os braços para acolher seu corpo, seus medos, suas raivas. Amar é ver que esse alguém - cheio de vícios e defeitos típicos da humanidade - pode vencer todos os fantasmas.

É preciso amar sem expectativa. É compreender que se nem nós mesmos nos entendemos, exigir que outra pessoa tenha 100% de compreensão sobre o que se passa em nossos pensamentos é, no mínimo, egoísmo.
Amar é respirar duas vezes antes de dar uma resposta; e na terceira, mesmo havendo dificuldade, ter a certeza de que "eu te amo" é a frase certa para sanar quaisquer problemas. É preciso amar com cautela. Mas sem tanto medo.

sábado, 3 de setembro de 2011

Os acordes da vida

Se a sua vida pudesse ter uma trilha sonora, qual seria? Qual é o ritmo que te embala ao amanhecer, nas horas de estresse, quando o coração acelera ou, simplesmente, quando você busca o silêncio em si próprio? Acabo de surpreender-me buscando essas respostas, e simplesmente não as possuo.

A vida é feita de muitas músicas, de acordes distoantes, de valsas lentas e baterias ensurdecedoras. De pronto, penso em Montserrat Caballè, que em 1988 emprestou a voz, junto a Freddie Mercury, à memorável "How can I go on?". A música marcou minha infância - esteve no LP "O melhor internacional de novelas" de 1992, um dos primeiros discos de vinil que lembro-me de ter pedido à mamãe. E eu passava horas e horas voltando a agulha do aparelho de som para ouvir aquela voz. Emocionava-me mesmo sem saber o que estavam cantando.

Na adolescência - não adianta mentir -, fui fã ardoroso de Sandy e Junior. Meu coração se partiu em pedaços quando um grande amor foi embora para longe, e a melosa "Turu Turu" parecia traduzir tudo que eu queria dizera. Só depois que ela se mudou para outro Estado que, por carta, admiti tudo que eu sentia e ocultava em amizade. O tempo passou, e com ele, o amor de juventude se transformou em uma das mais bonitas e fortes amizades que tenho até hoje!

Há bem pouco tempo - mais ou menos uns dois anos -, foi a vez de eu ouvir indiscriminadamente o jovem britânico David Archuleta. Mais uma vez, uma paixão, pensamentos disconexos, razão e emoção em conflito. As músicas que tocam nos meus pensamentos variam conforme a fase, conforme o que estou sentindo. Às vezes durmo com MPB e acordo querendo estar numa pista de dança. Estranho!

Na minha playlist recente, entram Adele, Isabela Taviani, Britney Spears, Train, Jorge Vercilo. Na trilha dos momentos em que busco paz cabe até mesmo a singela "Bella's Lullaby", que encontrei numa dessas aventuras pelo Youtube, à procura de sons simples para uma matéria complexa. Fato é que até quando estou em silêncio, recorro à memória das músicas para não me sentir vazio.

Bom, concluo, seria demais exigir que a vida tivesse uma única canção, uma coletânea pré-definida. Afinal, se nem mesmo nossos passos se definem logo que nascemos, porque um só som deveria nos tocar, nos arrebatar? Dia após dia, é bom deixar-se seduzir pelos sons, pelos acordes e vibrações. E, como diria Augusto Cury, "dançar a valsa da vida com as pernas desengessadas". Seja lá o que isso for!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Eu voltei. Agora, espero, para ficar.

Tudo na vida tem um preço, isso é fato. Caminhar depressa pode dar calos nos pés, falar demais pode causar mal entendidos, dormir demais pode acarretar atrasos para o início do expediente. Nos últimos dois meses, experimentei, de tudo isso, um pouco. E devo acrescentar um item à lista: trabalhar muitas horas por dia, engorda. Mas também dá prazer!

Deixei o "Fachettoides" de lado em julho e agosto por absoluta falta de tempo. Mergulhei de cabeça no trabalho e conciliei a jornada da Rádio CBN Vitória com as horas extras no jornal A GAZETA, onde fiquei interino, por três meses, na editoria de Política. Duas realidades bem diferentes: a primeira, marcada por corrida, pautas factuais - muita explosão, manifestação, buraco de rua, operações policiais e fiscais. A segunda, mais serena no sentido do esforço físico, mas desgastante por exigir mais concentração, conteúdo, uma visão mais global de alianças, cenários e interesses.

Diante de tudo isso, faltava inspiração para vir aqui dividir com vocês, leitores, algo que fosse diferente daquilo com que convivia na Redação. Desde que abri esse espaço, me predispus a não falar de jornalismo. Seria redundante, cansativo, monótono. Não faz parte das minhas intenções como blogueiro requenguela.

Mas chega de bla-bla-bla: pretendo ficar mais tempo por aqui. Nos dois meses que se passaram, muita coisa mudou: deixei a Rádio CBN e agora sou repórter efetivo de Política. Optei por um novo caminho - que não foi fácil de ser escolhido - e com ele virão novos desafios. Muitas informações em on, em off, articulações, eleições e siglas... ah, quantas siglas! Que Deus me abençoe nessa nova rota.

Espero ter (ainda) meus leitores por aqui. E que venham reflexões, cenas da cidade, crônicas e desabafos para essa janela virtual. Enfim, estou de volta!