quarta-feira, 4 de maio de 2011

Revirando meu baú

Lembranças gostosas da infância sempre me fazem sorrir. E foi assim, sorrindo para o meu próprio passado, que fiquei ao dar uma espiada lá no canto dos "sapatinhos" da Larissa Pretti. Ela, que é uma prima mais-que-querida, despertou em mim pensamentos deliciosos, da época em que o Natal era sinônimo de Papai Noel e de bombons Serenata de Amor. As festas de fim de ano, lá pelos meus cinco, seis anos, tinham cheirinho de cloro (da piscina da casa da minha dindinha) e a certeza do abraço gostoso de gente que eu só via, se muito, uma vez por ano.

Da minha infância, uma das primeiras coisas que lembro, com nitidez, é de uma parede verde em um hospital, e uma porta de elevador ao fundo. Eu devia ter uns dois anos, foi na época da minha cirurgia para reconstrução do esôfago (episódio que, por si só, rende um blog inteiro!). Lembro da despedida do papai, em Manaus, em 1989. Eu chorava muito e estava no colo da mamãe. O quintal de terra batida, o táxi parado à nossa espera, a casa de madeira com uma luz amarela fraquinha... flashes na memória.

E a primeira briga na escola? Está devidamente guardada: na 1ª série, havia um coleguinha que me perturbava muito. Se chamava Raphael e, nunca me esquecerei, faz aniversário quatro dias depois de mim! Pois bem, um dia esse garoto me infernizou, nem lembro por que, e eu arremessei meu cantil d'água - cheio! - nele. Resultado: eu fui para a coordenação e ele perdeu dois dentes da frente!

Me recordo nitidamente de uma febre muito forte que tive, quando devia ter uns quatro, cinco anos, no máximo. Vovó Santa e eu, sentados, no sofá de couro marrom, já rasgadinho, na casa de Laranjeiras. Era tarde da noite, e na TV passava um filme em que a Cláudia Ohana fazia papel de cega. Adormeci no colo da vovó assistindo televisão. Dia desses descobri que esse filme realmente existe - e não foi um delírio meu! -; chama-se "As aventuras de um paraíba". Não sei porque isso ficou guardado na minha cabeça por mais de 20 anos.

Diferente dos outros meninos da minha idade, eu não brinquei na rua, não pulei muros, não matei passarinhos nem joguei futebol. Pelo contrário: sempre fui cercado de muitos cuidados, apostei muita corrida com outras crianças nos corredores dos hospitais, perdi as contas das vezes que tirei sangue ou tive que tomar soro. Os pontos pós-cirúrgicos, então... incontáveis!

Tudo isso valeu a pena e merece ser rememorado. Por que? Porque apesar de tudo - dores, agulhas, internações, cirurgias, limitações -, eu sabia que, no fim do ano, poderia comer bombons escondido na despensa da dindinha, e todas as enfermidades eram subitamente esquecidas. Ficou para mim a lição de que a vida pode ser, apesar de dura, divertida. e engraçada Basta não perder a essência de criança feliz que fica guardadinha no baú dos sentimentos!

2 comentários:

  1. Lindo texto! Adorei! Bjs!

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  2. Que ricooooooooooo! Lembranças são RICAS! Adorei entrar no mundo das suas memórias, do que vc viveu, tantas vezes longe de mim. Adorei!

    OBS: E adorei a citação do meu blooooooog! :-)

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