quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quatro olhos

História que remete à minha infância, lá pelos idos de 1993 ou 1994: sala do oftalmologista. Letras na parede - A, B, U, D. Eu, diante de um aparelho que parecia gigantesco, repito: "- A, D, O, O". Nova tentativa, dessa vez com a sequência V, I, O, A. Lá vou eu, para outra repetição: "- Ih, tio, é U, I, D, A". Não colou. Estava na cara que eu estava forçando a barra para parecer "cegueta" e usar óculos. Desde pequeno, achava os tais "quatro olhos" um charme, sinal de inteligência.

Na escola, forçava as vistas, apertando os olhos, para dizer que tinha algum problema. Perdi as contas de quantos óculos, recortados em papel, fiz para adornar o rosto. Mas, não, o diagnóstico era sempre o mesmo: "- Você enxerga perfeitamente bem, parabéns!". Qualquer um receberia essa frase com alegria. Eu, não. A vida inteira foi assim.

Mas há duas semanas, tudo mudou. Após quatro anos sem passar por uma consulta com o oftalmologista, enxerguei um "O" no lugar de um "U", e um "U" onde estava, na verdade, um "V". E, desta vez, sem farsa. Sem apertar os olhos. Até havia dito ao médico, antes de ir para o aparelho, que aquilo era puro desencargo de consciência. Tanto desencargo que veio a notícia - astigmatismo. Leve, mas existente.

Sabe quando metade de você quer sorrir, a outra metade fica a pensar? Não sei descrever melhor aquela hora do que desta forma. Quer dizer que, beirando os 26 anos, eu vou ter que usar óculos? Há 20 anos atrás eu acharia isso o máximo. Me sentiria intelectual. Mas agora é como se eu tivesse a consciência de que... estou ficando velho! Ok, ok, exageros a parte, é mais ou menos isso, né?! Uma hora as peças começam a dar defeito.

Lá atrás ficou aquele sonho de menino que queria parecer mais inteligente. Agora me pego pensando: "e quando chover, vai molhar a lente?". E as digitais embaçando a visão? Será que me acostumo com esse treco que, de agora em diante, vai separar meus olhos do mundo? Tempestade em copo d'água.

Entrei para o time dos "quatro olhos". Tarde, talvez, mas entrei. Bastou por os óculos sobre o nariz, e vi que, de fato, o que está distante era meio embaçado antes. Até enxergo e consigo ler, mas os olhos fechadinhos, que na década retrasada era teatro escolar, havia se tornado algo inconsciente e necessário. Eu só não me dava conta disso. Vendo (literalmente) pelo lado bom, resgatei um pedacinho da minha infância com isso. Tá tudo bem!

Um comentário:

  1. Não creio!!!!! Vc tb????
    Antes de ontem fui numa consulta pq estou igual a uma ANCIÃ pra ler rótulos e afins... Resultado: ESPASMO DE ACOMODAÇÃO. Olho direito com 50% de visão, só. Vai passar! Vou usar remédio e vai melhorar, mas quase morri do coração com o diagnóstico! O astigmatismo (ninguém merece) tá um pouquinho pior e o grau aumentou... mas o tal do "50%" é que me fez perder o ar. Vai ficar tudo bem! :-)

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