terça-feira, 31 de maio de 2011

Guiando meu destino

Nunca quis dirigir. A verdade é bem essa. Desde pequeno, em meus pensamentos mais audaciosos, decretava: "- Vou ser rico, ter um motorista chamado James". Não me perguntem o porquê do batismo do fantasioso funcionário. Fato é que, aos 18 anos, mamãe decidiu que era hora de me ver com a carteira de habilitação em mãos. Lá da Itália, onde morava, ela me orientou, dizendo que se eu não quisesse dirigir, tudo bem. Mas ter o documento, até como garantia de eventual liberdade para ir e vir, seria necessário.

Foi assim que pisei pela primeira vez em uma autoescola. Ainda lá em Colatina, em 2004. Naquela época, eu estava repetindo o 3º ano no CEFET-ES (sim, repeti. Reprovei em Matemática e Química) e na minha turma vários colegas já estavam em polvorosa com a chegada da maioridade e a iminência de pegar - legalmente - num volante. Eu o fazia mais por "obrigação", para agradar à mamãe.

Perdi as contas de quantas vezes deixei o carro morrer no bairro Marista, quantas ladeiras errei ao lado do Tiro de Guerra. Minha primeira prova prática, lembro bem, foi no dia 20 de julho de 2004. Meu aniversário de 19 anos. Deixei o carro morrer logo na saída, esqueci setas, não dei partida após a parada regulamentar na ladeira. Um desastre justificado pela emoção do dia. Sim, eu fico meio retardado em dias de aniversário. Afinal, é uma data ímpar no ano!

A segunda tentativa, quinze dias depois, foi desastrosa de igual modo. Esqueci de puxar o freio de mão na ladeira, invadi a contramão, não fiz uma parada pedida pelo fiscal porque "ah, aqui é melhor não parar". Nem cheguei à baliza. Mas, confiante, fiz mais aulas e parti para o terceiro teste. Desta vez, assim que o fiscal entrou no carro, ouvi: "- Por 'cinquentinha' você passa". O que eu respondi? "- Não, obrigado, eu sei dirigir!".

Fiz todo o circuito. Dei setas, fiz paradas, cumpri a ladeira com maestria. Antes da baliza, o veredito: "- Você está reprovado. Subiu no meio fio, saia do carro". Juro, não havia subido, tenho certeza. Mas, como me neguei a pagar a propina pedida, foi o preço que paguei. Saí do carro (um Golzinho 1998), mas não sem antes mandar o fiscal ao inferno.

Passaram-se sete anos desde então. Foi quando, no início do ano, me propus a recomeçar. Afinal, estou em outra cidade, amadureci. O desejo veio de mim. Agora, não mais um pedido da mamãe. Mas também por ela, que esteja onde estiver, lá no céu, certamente ficaria feliz ao me ver guiando um carro com segurança, firmeza. Recomecei as aulas (longas aulas teóricas), me apliquei nos treinos pelas ruas do bairro. Era quase uma "revisão" de tudo que já tinha vivido em Colatina, mas agora eu me sentia mais "dono do volante". Difícil explicar.

Fiz a prova na manhã desta terça-feira. Nem terminamos o primeiro semestre de 2011 e já cumpri uma das minhas promessas de Ano Novo. Tirei minha carteira de motorista! Estou feliz, aliviado. Tenho certeza de que aprendi a dominar aquele monte de marchas, pedais, setas, etc etc etc. Mamãe, com certeza, deve estar vibrando, lá do lado do Papai do Céu. Aposto que, bem ao jeito dela, soltou um palavrão de fazer enrubescer os anjos, na hora da minha aprovação. Não consigo conceber outro modo de comemoração "à la" Eliana Dalva.

A carteira veio, e nem vou precisar mais do James. Como de mecânica nada entendo, talvez seja hora de contratar um especialista - qual seria o nome apropriado? Sebastião? Tonhão? Vou pensar... mas, enquanto isso, olhem bem para os lados antes de cruzarem as ruas. Qualquer hora dessas
, posso dar uma buzinada e oferecer uma carona!

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