terça-feira, 31 de maio de 2011

Guiando meu destino

Nunca quis dirigir. A verdade é bem essa. Desde pequeno, em meus pensamentos mais audaciosos, decretava: "- Vou ser rico, ter um motorista chamado James". Não me perguntem o porquê do batismo do fantasioso funcionário. Fato é que, aos 18 anos, mamãe decidiu que era hora de me ver com a carteira de habilitação em mãos. Lá da Itália, onde morava, ela me orientou, dizendo que se eu não quisesse dirigir, tudo bem. Mas ter o documento, até como garantia de eventual liberdade para ir e vir, seria necessário.

Foi assim que pisei pela primeira vez em uma autoescola. Ainda lá em Colatina, em 2004. Naquela época, eu estava repetindo o 3º ano no CEFET-ES (sim, repeti. Reprovei em Matemática e Química) e na minha turma vários colegas já estavam em polvorosa com a chegada da maioridade e a iminência de pegar - legalmente - num volante. Eu o fazia mais por "obrigação", para agradar à mamãe.

Perdi as contas de quantas vezes deixei o carro morrer no bairro Marista, quantas ladeiras errei ao lado do Tiro de Guerra. Minha primeira prova prática, lembro bem, foi no dia 20 de julho de 2004. Meu aniversário de 19 anos. Deixei o carro morrer logo na saída, esqueci setas, não dei partida após a parada regulamentar na ladeira. Um desastre justificado pela emoção do dia. Sim, eu fico meio retardado em dias de aniversário. Afinal, é uma data ímpar no ano!

A segunda tentativa, quinze dias depois, foi desastrosa de igual modo. Esqueci de puxar o freio de mão na ladeira, invadi a contramão, não fiz uma parada pedida pelo fiscal porque "ah, aqui é melhor não parar". Nem cheguei à baliza. Mas, confiante, fiz mais aulas e parti para o terceiro teste. Desta vez, assim que o fiscal entrou no carro, ouvi: "- Por 'cinquentinha' você passa". O que eu respondi? "- Não, obrigado, eu sei dirigir!".

Fiz todo o circuito. Dei setas, fiz paradas, cumpri a ladeira com maestria. Antes da baliza, o veredito: "- Você está reprovado. Subiu no meio fio, saia do carro". Juro, não havia subido, tenho certeza. Mas, como me neguei a pagar a propina pedida, foi o preço que paguei. Saí do carro (um Golzinho 1998), mas não sem antes mandar o fiscal ao inferno.

Passaram-se sete anos desde então. Foi quando, no início do ano, me propus a recomeçar. Afinal, estou em outra cidade, amadureci. O desejo veio de mim. Agora, não mais um pedido da mamãe. Mas também por ela, que esteja onde estiver, lá no céu, certamente ficaria feliz ao me ver guiando um carro com segurança, firmeza. Recomecei as aulas (longas aulas teóricas), me apliquei nos treinos pelas ruas do bairro. Era quase uma "revisão" de tudo que já tinha vivido em Colatina, mas agora eu me sentia mais "dono do volante". Difícil explicar.

Fiz a prova na manhã desta terça-feira. Nem terminamos o primeiro semestre de 2011 e já cumpri uma das minhas promessas de Ano Novo. Tirei minha carteira de motorista! Estou feliz, aliviado. Tenho certeza de que aprendi a dominar aquele monte de marchas, pedais, setas, etc etc etc. Mamãe, com certeza, deve estar vibrando, lá do lado do Papai do Céu. Aposto que, bem ao jeito dela, soltou um palavrão de fazer enrubescer os anjos, na hora da minha aprovação. Não consigo conceber outro modo de comemoração "à la" Eliana Dalva.

A carteira veio, e nem vou precisar mais do James. Como de mecânica nada entendo, talvez seja hora de contratar um especialista - qual seria o nome apropriado? Sebastião? Tonhão? Vou pensar... mas, enquanto isso, olhem bem para os lados antes de cruzarem as ruas. Qualquer hora dessas
, posso dar uma buzinada e oferecer uma carona!

domingo, 29 de maio de 2011

Liquidificadores e batedeiras

O alerta veio da minha prima Fabíola, à constatação que fiz há alguns dias, de que, conforme o tempo passa, surgem pequenos defeitos em nós. Disse ela, com a sabedoria que tanto admiro: "A gente não 'dá defeito'. A gente muda. Algumas coisas vão cansando, outras se aperfeiçoam. Quem dá defeito é o liquidificador, a máquina de lavar, a batedeira". Pensando bem, não é que é verdade?!

O sinal vermelho acendeu ontem, sábado. O alerta da minha Bia (como chamo a prima querida) se tornou inegável quando, após pelo menos uns 40 dias de conversas e combinações via Facebook, reencontrei velhos amigos. Gente que estudou comigo no CEFET-ES, em Colatina, há oito anos. Nossa turma, a V-07, marcou época. Marcou minha história. E oito anos depois, revê-los me fez lembrar de situações que a memória havia apagado, e reviver sensações que não tinha desde que deixei as salas de aula.

A turma, completa, beirava 40 alunos. Estudávamos à tarde e grande parte dos alunos era de cidades vizinhas, como São Gabriel da Palha, João Neiva, Ibiraçu. Naquela época não havia tantas unidades da federal pelo Estado, como hoje. Não havia câmera digital, tampouco internet em alta velocidade. Ouso dizer que os celulares, nos idos de 2003, eram rudimentares e escassos. Dos amigos daquela época, reunimos sete. Parece pouco, mas nesse número ficamos por cinco horas - Gente! CIN-CO horas - rindo e colocando as fofocas em dia.

Os papos mudaram. Sexo, que era tabu (ou algo desconhecido) foi parar na mesa do almoço. Aventuras, desventuras, "quem gostava de quem". Passamos a limpo "quem ficou de mal com quem" e rimos de como éramos passionais. Constatamos que dos casais que se formaram no Ensino Médio, nenhum prosperou. Alguns emagreceram outros engordaram. Tem gente que já se casou. Houve quem mantivesse, por esses anos, estranhas manias. Adoráveis manias, que nos remetem à época que consideramos "a melhor de todos os tempos".

No CEFET-ES tínhamos aula de atletismo. Tínhamos um canteiro de obras para matar aulas. Professores nem sempre legais (e um, especialmente, nunca cheiroso) e uma coordenação rígida, que nos mandava de volta para casa se as meias tivessem detalhes coloridos. O uniforme tinha que estar impecável e, uma vez por mês, cantávamos o hino da escola sob o escaldante sol colatinense. Não tínhamos notebooks, muito menos tênis de marca famosa. Às vezes, não tínhamos nem o direito de chorar escondidos, porque a turma toda ia atrás para dar apoio (ah, a Matemática...). Sobrava uma parceria deliciosa, contagiante.

ººº

O que mudou desde que deixamos a adolescência?! Bom... recorrendo à teoria da Bia, noto que meus amigos realmente se aprimoraram. Nada de defeitos, apenas experiência acumulada. Loreny, minha melhor amiga (desde a infância), é concursada do Banco do Brasil e está prestes a se formar em Direito. Tem os olhos mais bonitos que conheço e um coração tão bom e tão justo que não sei descrever. Nossa amizade, apesar da distância - ela está morando em Minas Gerais -, é sólida e completa!

Ramony, que vivia reclamando de estar encalhada, se casou com um engenheiro. Está mais magra, mais loira, mas mantém o lindo sorriso de outrora. Renata (a Sandy, como eu a apelidei secretamente na escola) é professora de inglês. O tempo a tornou uma mulher mais liberal, menos certinha, mas manteve a beleza e a sensatez que sempre lhe foram peculiares. Ah, e "de gorgeta", descobri que, com o passar dos anos, temos ótimas afinidades.

Os Gemins - Wanderson e Walace - serão sempre os caçulas da turma. Ainda não chegaram nem aos 24 anos, mas cada um tem seu carro e ambos são concursados. Wanderson (o gêmeo bonzinho) é funcionário dos Correios. Walace é efetivo do Instituto Federal do ES, em Aracruz. Julia, que sempre teve uma beleza estonteante (a "cavala" da turma!) continua uma beldade. Mas, agora, com canudo de arquiteta em mãos.

O sétimo cavaleiro do Apocalipse, na mesa do reencontro, era eu - o Duzim. E cá estou, com meus cabelos brancos, com algumas marcas de expressão. A coluna um pouco envergada, os olhos não enxergando tão bem. Continuo uma negação em Matemática e nada sei de Química. Mas amo as palavras. Sou apaixonado pelo que faço e escolhi uma profissão que me completa.

Reunir amigos, rir de bobeiras foi algo memorável. Criticar coisas (e pessoas) que ficaram no passado, falar alto e posar para fotos atrapalhando os garçons me fez tão bem! Que defeito pode ter nisso? Como diz a Fabíola, a gente não é liquidificador, máquina de lavar, nem batedeira. Registramos - mais uma vez - nossa história. Os rostos estão mais maduros, as piadas também, mas nesses oito anos, uma coisa não mudou: "a V-07 poca sim, e daí?!"

sábado, 28 de maio de 2011

Casas, pessoas e nossos cômodos

Os sonhos da casa própria, do amor para sempre. Que critique quem não cultua, lá no fundo dos desejos, ao menos uma dessas coisas. A moradia perfeita, o abraço que aconchegue na medida certa. Pensamos e repensamos as cores, as medidas, os adornos, os detalhes, o perfume. Das casas e dos amores.

Seria perfeito, se não fosse uma constatação: pessoas não são casas. Por mais que queiramos, o surpreendente (e às vezes traiçoeiro) destino não nos permite escolher pares pela cor, pelas dimensões, pelo formato. Já vi muita gente se apaixonar por "pessoas quitinete", daquelas que são pequenas, que parecem até mesmo simplórias demais, mas que, com a luz do brilho no olhar, se transformavam em grandes resorts para a pessoa amada. Na contramão, já presenciei grandes ilusões com pessoas que se apresentavam como verdadeiras mansões, mas não passavam de choupanas de pau-a-pique.

A casa da gente tem que ser perfeita. Piso bem assentado, pintura impecável, uma decoração que seja bonita e, ao mesmo tempo, funcional. Espaços mal decorados tendem a causar incômodo - ora por muitos enfeites, ora por minimalismo demais. Nas contas do "8 ou 80", é difícil e trabalhoso o trabalho de se manter a casa em ordem. Pessoas também!

Explico: todo mundo tem seu cômodo desarrumado. Uma mania gritante, um dedo torto, um fio de cabelo que nunca chega no lugar, uma manchinha na pele que sobressai em fotos. Há casos piores, de cômodos que, de tão desorganizados, poluem todo o resto da nossa casa interior: falta de sensibilidade, deboche em demasia, línguas ferinas ou - tão comum! - impaciência para olhar para o lado. E quando a gente chega a uma casa dessas, e se apaixona por ela, quer logo arrumar tudo, enquadrar ao nosso modo. Mas quem disse que as pessoas querem ser arrumadas? No jogo da convivência, do amor e desamor, o máximo que se pode fazer é dar uma "ajeitadinha". De resto é aprender a respeitar os limites!

Outro fato que merece atenção: nós, gente de carne e osso, nos acostumamos ao nosso habitat. Seja a casa, seja a companhia. E nesse costume, deixamos uma parede descascada "para depois", colocamos um tapete sobre aquele piso que ficou frouxo, esquecemos uma lâmpada queimada no lugar - "ah, não faz tanta falta". E, ainda, deixamos de elogiar o vestido novo da esposa, a porta do carro deixa de ser aberta em sinal de cavalheirismo, as risadas e passeios a dois ficam escassos.

Casas e pessoas são tão diferentes... e tão iguais. Todos sonhamos em ter uma que seja nossa. Que seja para sempre. Que tenha o frescor dos dias frios, o sol da manhã, que acomode nossos bagulhos e manias de forma organizada. Mas, penso eu, sem um pouquinho de boa vontade, de cuidado e carinho, até mesmo o melhor dos lares (e o mais esfuziante amor) perde o fôlego. E, nesse caso, sempre haverá alguém disposto a arrumar as trouxas. E buscar novo abrigo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quatro olhos

História que remete à minha infância, lá pelos idos de 1993 ou 1994: sala do oftalmologista. Letras na parede - A, B, U, D. Eu, diante de um aparelho que parecia gigantesco, repito: "- A, D, O, O". Nova tentativa, dessa vez com a sequência V, I, O, A. Lá vou eu, para outra repetição: "- Ih, tio, é U, I, D, A". Não colou. Estava na cara que eu estava forçando a barra para parecer "cegueta" e usar óculos. Desde pequeno, achava os tais "quatro olhos" um charme, sinal de inteligência.

Na escola, forçava as vistas, apertando os olhos, para dizer que tinha algum problema. Perdi as contas de quantos óculos, recortados em papel, fiz para adornar o rosto. Mas, não, o diagnóstico era sempre o mesmo: "- Você enxerga perfeitamente bem, parabéns!". Qualquer um receberia essa frase com alegria. Eu, não. A vida inteira foi assim.

Mas há duas semanas, tudo mudou. Após quatro anos sem passar por uma consulta com o oftalmologista, enxerguei um "O" no lugar de um "U", e um "U" onde estava, na verdade, um "V". E, desta vez, sem farsa. Sem apertar os olhos. Até havia dito ao médico, antes de ir para o aparelho, que aquilo era puro desencargo de consciência. Tanto desencargo que veio a notícia - astigmatismo. Leve, mas existente.

Sabe quando metade de você quer sorrir, a outra metade fica a pensar? Não sei descrever melhor aquela hora do que desta forma. Quer dizer que, beirando os 26 anos, eu vou ter que usar óculos? Há 20 anos atrás eu acharia isso o máximo. Me sentiria intelectual. Mas agora é como se eu tivesse a consciência de que... estou ficando velho! Ok, ok, exageros a parte, é mais ou menos isso, né?! Uma hora as peças começam a dar defeito.

Lá atrás ficou aquele sonho de menino que queria parecer mais inteligente. Agora me pego pensando: "e quando chover, vai molhar a lente?". E as digitais embaçando a visão? Será que me acostumo com esse treco que, de agora em diante, vai separar meus olhos do mundo? Tempestade em copo d'água.

Entrei para o time dos "quatro olhos". Tarde, talvez, mas entrei. Bastou por os óculos sobre o nariz, e vi que, de fato, o que está distante era meio embaçado antes. Até enxergo e consigo ler, mas os olhos fechadinhos, que na década retrasada era teatro escolar, havia se tornado algo inconsciente e necessário. Eu só não me dava conta disso. Vendo (literalmente) pelo lado bom, resgatei um pedacinho da minha infância com isso. Tá tudo bem!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mentiras & Renúncias

Uma das primeiras coisas que aprendi, pequenininho ainda, é que mentira é uma coisa muito feia. Seja a mentira "boa", para ajudar alguém a escapar de um castigo, seja aquela mais complicada, que põe em xeque sua credibilidade e sua imagem. Não importa o tamanho, mentira é mentira. E, já crescido, passei a ver que mentir não é só faltar com a verdade - pode ser, em determinados casos, omitir uma verdade, quando se sabe que os fatos, como são, têm relevância para outrém.

Mentira não "faz o nariz crescer", mas é capaz de ferir profundamente sentimentos que se mantêm fortes, firmes diante de grandes tempestades. Perdoar uma mentira? Ok, é possível. Duas, já fica mais difícil. Convenhamos, ninguém gosta de ser feito de bobo. Não conheço ninguém que se contente em passar dias debruçado na janela, à espera de uma carta que nem sequer foi escrita - e que, portanto, nunca chegará pelos Correios. Não há vida que se desenvolva sobre uma relação baseada em omissões, culpas, versões para fatos que nunca existiram.

Nessas minhas andanças pela vida, já conheci muita gente que mente. E que mente de cara lavada, olhos nos olhos, sorriso nos lábios, gargalhada gostosa na voz, encobrindo fatos e sensações que, por tantas vezes, jamais afloraram. Verdadeiros ladrões de sonhos, de confiança. Gente que toma para si, com egoísmo, o bem-querer alheio - mas que se nega a querer bem, de verdade, na mesma medida.

Não estou aqui citando aquelas mentiras clássicas, do "te liguei, mas caiu na caixa postal". Ressalto juras de amizade e amor verdadeiros, de cumplicidade sem limites, de estar perto nas horas boas e nas nem tão boas. Promessas jamais cumpridas. Seria exagero chamá-las de mentiras? Teria sido mero desinteresse por manter compromissos? Já não faz diferença quando as imagens outrora nítidas e admiradas ficam ambaçadas. É o que a mentira faz. Embaça!

ººº

Não quero mais. Não quero mais ser mera vidraça, alvo fácil para tiros incertos. Renuncio às quimeras de felicidade que vencem obstáculos - tempo, distância, diferenças - mas que não passam, nunca, de fantasias. Quero olho no olho. Quero transparência. Prezo pela verdade, pelas brigas de verdade e pelas reconciliações que aquecem o peito.

Quero planos de viagens, quero acordar com a certeza de um "bom dia" que faça até mesmo os dias cansativos e de chuva parecerem bons. Quero poder respeitar minhas pequenas neuroses, meu excesso de zelo comigo e com os outros. Desejo estar com meus amigos reunidos numa mesa de bar, rindo da vida. Quero me libertar do aperto no peito com a falta de notícias, da angústia de uma espera que nunca chega.

A vida é mais colorida, divertida e gostosa quando se vive de verdade. E com a verdade!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dias de 36 horas

Cá entre nós: sabem aqueles dias em que mal dá tempo de beber água ou pausar tudo que se está fazendo para um simples xixi? Pois é! Estou numa dessas fases. A manhã passa correndo, os minutos voam, e quando assusto, já é hora de escovar os dentes, escolher a roupa para trabalhar, almoçar e correr para o ponto de ônibus!

Tudo começa por volta das 7 horas, quando o despertador toca e eu já levando correndo para o banho. Em 20 minutos tenho que tomar café, trocar de roupa e correr para a autoescola (que está quase acabando!). De lá, uma corridinha no calçadão e academia. Pronto, já são 11 horas. E onde está o tempo para ler o jornal? Para ler alguma revista? Que nada... os preciosos minutos são usados para tomar banho, fazer outra troca de figurino e ir para a mesa do almoço.

Fico pensando nas minhas amigas e primas que têm filhos. Deve ser uma loucura ter que dar conta da própria vida e a de outro alguém - principalmente quando esse "alguém" é um pedacinho da gente que ainda não tem vida própria e depende de comandos para se virar. Cruzes! Para a minha manhã render, seriam necessárias mais umas duas ou três horas. Só assim para eu conseguir fazer tudo pausadamente, tendo tempo de pensar nos próximos passos.

Aí vem a dura missão de pegar o ônibus. Só quem depende de transporte coletivo sabe do que eu estou falando: lotações (lotados!) que não passam, gente fumando no ponto, motoristas nem sempre bem-humorados e passageiros nem sempre bem afeiçoados ou cheirosos. É de tirar qualquer chance de bom humor.

Um adendo à vida nos ônibus: por que algumas pessoas (principalmente no fim do dia) se sentam nas cadeiras dos corredores, deixando as das janelas vazias? Na minha opinião, é um traço de egoísmo, de não querer contato com ninguém. Afinal de contas, muita gente fica sem jeito de pedir licença para se sentar ao lado e, com isso, os "folgados" ficam com mais espaço. Mas... melhor isso àqueles sujeitos espaçosos, que abrem as pernas quase em 180º e ainda jogam a bolsa sobre o passageiro ao lado. E o que falar dos perfumes fortes, dos cabelos soltos jogados pelo vento nos passageiros de trás ou dos vendedores de paçocas, canetas e balas? Melhor silenciar.

Bom, vencida essa batalha, ufa!, hora de começar o trabalho. Aí as horas voam, quando me dou conta já anoiteceu. E, logo logo, está na hora de dormir e recomeçar a labuta. Faço uma proposta a Deus: que tal se, na próxima atualização da versão beta do mundo, os dias passassem a ter 36 horas? Seria uma boa.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A casa da minha infância

Minha infância mora em um sobrado grande, de janelas marrons, portão amarelo, paredes pintadas a cal branco, já descascadas. Esse sobrado é cercado de um imenso quintal, onde há dálias, graxas, antúlios e árvores pequenas, intercaladas às hortinhas, onde estão plantados pés de couve, coentro, salsa e babosa. Minha infância mora na Rua Wagner, número 228, em Laranjeiras.

Foi neste sobrado enorme, com garagem de piso em cimento grosso e paredes pintadas de rosa bebê, que passei os primeiros anos da minha vida. As lembranças dos primeiros beijos - na vizinha Karol - remetem à minha casa. Posso sentir o cheiro da terra molhada nas tardes de chuva. Chuva danada, que entrava pelas frestas das janelas e exigiam que os móveis fossem afastados.


Na minha infância, SBT não se via bem na televisão. Mesmo assim, todo domingo estava eu lá, cantarolando "Lá vem a Flor lará lará lará..." no Show de Calouros do Sílvio Santos. Não me esqueço: "Flor, a mulher que não usa calcinha!". Sabia eu lá o que era isso? Não. Mas simpatizava com a jurada. No rádio, lá no início dos anos 90, Daniela Mercury estourava com seu "Canto da Cidade", e eu ouvia a baiana cantar em um rádio grande, quadrado, posto na varanda.

Ah, a varanda da minha casa... ali eu construía meu mundo. De vez em quando, meus desenhos (verdadeiras obras surrealistas) eram pregados, com fita crepe, e decoravam todo o espaço. Tinha uma mesinha feita pelo meu bisavô, especialmente para mim, onde eu aprendi a riscar as primeiras letras, a redigir os primeiros textos. Eram chamados de "ditadinhos" na escola - e desde muito pequeno eu queria ser o melhor, para ganhar a estrelinha da professora!

Na rua da minha casa, havia vizinhos de longa data. Na Copa do Mundo de 94, interditávamos o trecho e íamos todos para a rua, assistir às partidas da seleção de Dunga, Romário e Bebeto. Cada um levava um quitute, como numa verdadeira festa americana. Vovó Santa fazia bacias e mais bacias de pipoca doce. Eu me lambuzava!
A casa da minha infância tinha um banheiro pequeno, de piso vermelho e cerâmicas brancas. Tinha um espelhinho em frente ao lavatório e um nostálgico bidê (alguém lembra disso?).

Certa vez, um espírito zombeteiro se apossou de mim e resolvi riscar todas as paredes cor-de-rosa. Não eram riscos aleatórios: saí escrevendo palavrões pelas paredes. E não era um palavrão qualquer; era aquele pequenininho, de apenas duas letras! Coisa inimaginável para um menino de só sete, oito anos. Fui obrigado a limpar tudo com uma esponja, horas depois.

A casa da minha infância é minha referência de felicidade e segurança. Até hoje, passados mais de 15 anos que nos mudamos de lá, todas as vezes que sonho que estou "voltando para casa", é lá que eu chego. E nos sonhos, estamos lá, felizes: eu, vovó Santa e mamãe. Todas as noites em que meu sobrado surge nos sonhos, estou pintando as paredes ou arrumando os móveis. Mas é aquela casa. Aquela lembrança gostosa. O sentimento reconfortante de estar seguro no meu mundo. Como se eu ainda fosse criança!

domingo, 15 de maio de 2011

Fuja da rotina. É domingo!

Domingo de sol combina com praia. Com água de coco, calçadão, gente bonita, música boa, brisa leve no rosto. Mas também é um dia que combina com cama aconchegante, edredon, ventilador ligado, cortina com veda-luz e ausência completa de tarefas importantes. Domingo é dia de ser feliz, seja qual for a sua opção. Negue-se às amarras dos dias úteis!

Na infância, domingos para mim eram os sagrados dias de ir à piscina da casa da Dindinha Dica, irmã mais velha da mamãe. Era pura alegria! Tinha o quintal com cachorros (que eu tinha medo), tinha cheiro de cloro, olhos ardendo. Vez ou outra, sobrava para os hidratantes nas costas, porque o sol de Colatina é sempre muito quente e, por outro lado, eu sempre fui muito branco!

O primeiro dia da semana (não me convenço disso! Para mim, é a segunda) é o dia mundial da comida congelada para os solteiros. Nada de esquentar barriga no fogão, nenhuma panela para lavar. Sobra o "Domingo Legal" (que deixou de ser legal há uns 10 anos) e o "Domingão do Faustão" para atenuar a ausência de diálogo em casa. Para os casados - e para aqueles que já têm filhos -, o domingo é dia de reunir a prole, chamar gente querida, caprichar no menu e celebrar a véspera da labuta com tudo que se tem direito!

Como já disse, os domingos são aqueles dias que dispensam despertador. Tem coisa melhor que por o sono em dia, sem hora para acordar, sem deadline a cumprir? Melhor coisa é poder acordar depois do meio-dia sem a preocupação deste ser um "bom dia" ou uma "boa tarde" a desejar. É o dia de se desprender das convenções; ouvir música alta, revirar o guarda-roupas, falar com alguém que mora longe (ainda existem tarifas telefônicas mais baratas neste dia??) e preparar o espírito. Porque, afinal de contas, lá vem a segunda-feira...

sábado, 14 de maio de 2011

Exaurido

Estou cansado. Cansado das mesmas palavras, dos mesmos clichês, das velhas histórias de amor das novelas - com fórmulas repetidas e suspenses previsíveis. Cansei das músicas tocadas a contragosto em ônibus lotados, dos sorrisos amarelos, dos "bons dias" que acabam se mostrando não tão bons quanto deveriam.

Cansei do mundo ranzinza; de gente que reclama de tudo (e eu reclamo!), de gente que se faz de cega, de quem menospreza o bem-querer alheio. Estou cansado dos pagodeiros que falam de amor e engravidam fãs, da chatice em que se transformaram os debates no país, da hipocrisia reinante nas rodinhas da alta sociedade (que eu nem frequento) - onde o ter superou o ser.

As incontáveis capas da Playboy feitas pela Mulher Melancia... já cansei. O burburinho em torno dos beijos gays vetados pela TV Globo... chega! Já não causam frisson assuntos repetidos; o "replay" eterno em que se transformou a vida, sempre revisitando o que já é conhecido e, para piorar, pouco acrescentando às experiências.

Cansei de esperar por quem não chega. Cansei dessa minha tolice em acreditar que "tudo vai dar certo", muitas vezes negando para mim mesmo que há casos que estão perdidos (pra quê insistir?). Cansei de ficar longe da minha família, mas quando estou perto, me canso de ouvir problemas que não posso resolver.

Cansei de lutar contra a genética, mas se me entregar, vou ficar cansado de subir quaisquer degraus. Estou cansado da minha dor na coluna, da minha autoavaliação sempre crítica (preciso me dar mais pausas!) e da minha preguiça em buscar o que é novo. Estou exausto da mesmice. E, às vezes, até de mim mesmo.

Vou descansar.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O mundo está ficando chato

O mundo está girando numa direção que, não tarda, vai transformar a realidade numa coisa enfadonha. É um tal de "não pode isso, não pode aquilo", um excesso de bom-mocismo e frases comedidas que, sei não, não há de dar em boa coisa! Estamos perdendo a noção do que pode se só prazer, e rezando na cartilha das convenções amarradas por gente que, há muito, não deve saber o que é dar uma boa gargalhada.

Para começar, só é intelectual quem gosta de João Gilberto e quem já leu, pelo menos uma vez na vida, algo de Foucault. Alguém aí sabe me dizer qual foi o último sucesso de João Gilberto, a não ser aquela língua imensa que ele mostrou à plateia em algum show mundo afora? Sobre Foucaut, nada sei. Mas quando morreu Moacyr Sciliar e eu admiti não saber de quem se tratava, quase virei uma Madalena arrependida, apedrejado. Continuo não sabendo - sou da época em que se lia Machado de Assis, Cecília Meirelles, Pedro Bandeira, entre outros.

Outra coisa chata: os super-heróis das redes sociais. Morreu Bin Laden: "Coitado, não teve julgamento justo". STF aprovou a união homoafetiva? "É o fim da família brasileira". Às vezes me parece que, no Twitter ou no Facebook, as pessoas querem se travestir de guardiãs da moralidade. Quem apresenta o contraditório é punido com unfollows e retweets precedidos de alguma palavra opressora. E cadê a liberdade de expressão? Só presta quem está todos os dias bem, quem só fala palavras bonitas, quem nunca se admite cansado ou, simplesmente, de saco cheio de um dia ruim.

Para engrossar a lista, o que acham do "suposto"? Está lá, invariavelmente, em todos os veículos de comunicação. "Dona Fulana foi pega com 15g de cocaína" - suposta usuária. "Doutor Sicrano apalpou onde não devia uma garota de 10 anos" - suposto crime de pedofilia. "Magistrado Beltrano favorecia amigos em concursos" - suposto esquema de corrupção. Essa palavrinha enjoada - e enjoativa - veio socorrer àqueles que têm medo de dizer o que precisa ser dito. Salvo raras excessões, em que de fato precisa ser usada, virou salvaguarda para tudo aquilo que está por debaixo dos panos, e que, em off, é dito de modo rasgato, sem papas na língua.

E os xiitas que estão à solta, por aí? Lá para os lados do cerrado brasileiro, tem uma turma que anda de preto, viola debaixo do braço. Todos contra alguma "filia". Não vou entrar no mérito da questão, não vem ao caso, mas fazer marketing sobre a desgraça alheia também é condenável. Eu, por exemplo, sou tão contra as "filias" quanto condeno o uso indiscriminado de Kolene e Yamasterol nos cachinhos do líder da seita. Eca! Pena haver gente que só vê boa intenção em tudo, inclusive nessa causa "nobre, em defesa dos valores da família", usada com o simples intuito de capitanear almas (e votos!). Acho que o capeta deve estar pedindo um puxadinho pro inferno, porque, pelas minhas contas, a densidade demográfica de lá está de fazer inveja à China!

Por fim, e o tal do bullying? Vedete do momento, o termo importado do inglês que significa "amedrontar" está em todos os cantos. Do maníaco da moto ao monstro de Realengo, todos foram vítimas de bullying quando crianças. Ter sido amedrontado, ameaçado, reprimido na juventude virou a desculpa perfeita para cometer atrocidades e falar as asneiras que quiser. Afinal, "pobrezinho, é preciso observar que conviveu com bullying e que, por isso, se transformou no que é!". Essa palavra cachorrenta (é o termo que me ocorre, desculpem-me) virou ponto final para todas as discussões e, sem excessões, justifica tudo. Estou pasmo de, até agora, ninguém ter dito que Osama Bin Laden também era reprimido quando pequeno.

Ufa, um desabafo. Corro o risco de ser rechaçado, criticado, mas pelo menos estou tentando fugir desse caminho (sem volta) dos corações de açúcar e das boas almas que prezam pela moral e bons costumes. Após o bip, deixem seus recados... mas se forem ofensas, vou às redes sociais dizer que sou vítima de suposto bullying! E estarei perdoado.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Contrapontos

Não há estrada pela qual se passe uma única vez. Do mesmo modo que as roupas lhe servem mais de um dia, que o cabelo precisa ser penteado várias vezes em poucas horas, que as emoções são revisitadas a cada novo filme lançado - ou a cada gargalhada dividida com velhos amigos.

Não há caminho sem volta - exceto o da morte, a última reta que percorremos. Não há mancha que não se limpe. O braço doeu? Tente colocar os panos de molho, sem pressa. Não existem janelas e portas impossíveis de serem abertas. Emperrou? Faz uma forcinha; tenta com jeitinho... uma hora vai! Não há realidade se, antes, não houver sonhos.

Não há prazer sem entrega, não há excessos sem culpa, não há emagrecimento sem dieta (e muito exercício!). Na mesma linha, o que pensar do crescimento? É... até para isso é necessário esforço, doses de desprendimento e muita vontade de ir adiante. Inadmissível pensar em casamento sem namoro, e divórcio sem divergências irreconciliáveis.

Não há verde sem amarelo e azul. Não há vitória sem determinação. Saudade não existe sem aquele apertozinho no coração. Até o diálogo tem pré-requisitos: poderação ao falar e paciência ao ouvir. E se não há estrada que se passe uma única vez, por que não percorrê-la de novo, tendo uma mão para segurar? Ah... não existe nós sem eu e tu.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Paz demais? Que saco...

Cá entre nós: tem coisa mais chata que sair da cama, num dia qualquer, já dando o dia que começa como causa perdida? Aqueles dias de nuvens cinzas, de vontade de dormir "mais cinco minutinhos", de ter preguiça até de desejar bom dia à mãe ou ao pai. Sinceramente, não conheço ninguém que nunca tenha se queixado dessa experiência.

É fato: existem dias em que o universo conspira contra nós! A roupa preferida aparece manchada, o sapato pega no cantinho do dedão, o ônibus atrasa ou, pior, resolve cair "aquela" chuva justo na hora em que você está saindo do trabalho. Até o mais cristão dos mortais, nessas horas, há de dar uma reclamada diretamente com Deus. Não tem como ser diferente!

Mas, pensemos no lado oposto. E se todos os dias fossem esplêndidos, magníficos, suaves? Mamãe era uma que costumava dizer: "- Quando eu morrer, não quero ir para o céu. Imagine que saco aqueles anjinhos o dia inteiro de túnica, tocando harpa!". Acho que ela tinha razão (só não sei se Deus atendeu ao pedido dela!). Seria de uma monotonia infernal - com perdão da palavra - se todos os dias fossem tranquilos, se todas as roupas caíssem perfeitas no corpo, se o bom humor reinasse na humanidade. Já pensaram a cãibra que deve dar na boca, ficar o tempo todo sorrindo e distribuindo simpatia?! Que vidinha insossa.

Academia, então? Se todos os exercícios fossem fáceis, que graça teria? Dá pra imaginar o efeito devastador dos chocolates, se junto ao sabor inigualável não estivessem atreladas, também, altas doses de gorduras, açúcares e outros elementos prejudiciais? Tudo tem que ter um "porém". Do contrário, o excesso de bem-estar nos levaria ao comodismo eterno. É preciso uma dose de reclamação, um momento de fúria, um dia de introspecção. Isso funciona como contrapeso e acaba favorecendo os dias bons, porque passamos a valorizá-los mais!

Então, caros leitores, vamos tentar olhar com bons olhos para as nuvens cinzas, para os sapatos apertados, para as roupas manchadas. Vamos suportar os vizinhos barulhentos, os canos entupidos, os celulares tocando funk no lotação. Deu vontade de xingar? Não guarde!

Melhor ter problemas e encarar todos os desafios diários como obstáculos para o que está por vir. E se lá adiante, quando chegar "a morte, angústia de quem vive", nos depararmos com anjinhos de túnicas - cândidos e celestiais -, tocando harpa numa eterna paz, entre pássaros serelepes sobre nuvens calmas com cheiro de jasmim, teremos ao menos os dias difíceis para nos trazer alguma emoção. Porque, vamos combinar, calmaria demais... dá sono!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sorrimos, meu bem...

Ter amigos é tudo de bom! Já falei aqui sobre isso, mas é um tema que merece - e deve - ser revisitado com frequência. No último fim de semana, tive uma prova mais que real de quanto gosto da presença dos meus amigos. Fui a Colatina, na Festa do Cafona, e acabei reencontrando, por lá, boa parte da minha turma do Ensino Médio. É engraçado como, ao vê-los, me sinto confortável, "em casa".

Da turma do CEFET-ES (hoje IFES), estavam lá: Loreny, Renata, Tiely, Walace, Wanderson, Rodrigo. Encontrei, também, o Guilherme, o Renan e a Joyce, que estudaram comigo em 2004, quando repeti o 3º ano (nunca fui bom em Química, muito menos em Matemática). Alguns deles, não via desde a formatura. Daí a grande surpresa em observar que, mesmo com a distância e com a maturidade que veio, ainda nos entendemos, conseguimos rir juntos e falamos de igual para igual, tendo preservada aquela adolescência que vivemos!

Ah, os tempos do Ensino Médio... do uniforme com gola de linha, da "Marcha Eteviana" cantada sob sol forte, dos Juneds e gincanas. Tempos de linha-dura, quando não podíamos usar bonés coloridos, meias com detalhes ou camisa de educação física fora do horário apropriado. Dizia a gerente de ensino: "- Os rapazes querem exibir os músculos!". Ai ai ai... hoje isso nos rende risadas!

Naquela época (entre 2001 e 2003) a internet ainda caminhava a passos lentos. Esperávamos até à meia-noite para fazer uma conexão discada de pulso único. Havia aulas de atletismo (nunca acertei o tal arremesso de peso) e desenho técnico. Muitas dessas aulas nos serviam, apenas, para inventar paródias, ir para o conteiros de obras estudar para o que realmente interessava e rir, uns dos outros. Esse último era o mais frequente!

Rir foi o que fizemos nesse fim de semana. Primeiro, das nossas roupas cafonas. Dignas de Oscar de figurino, eu diria. Só quem é de Colatina entende - e sente - o quando esta festa mexe com a população. E, confesso, este ano eu não estava nada animado para prestigiá-la. O show principal, da Banda Blitz, nem vimos. Ficamos de papo, contando as novidades, apontando as outras pessoas ridículas (e também as interessantes), relembrando velhos tempos... enfim, pondo a amizade em dia!

A Festa do Cafona 2011 ficará na lembrança. Primeiro, por ter sido minha oitava participação no maior evento de Colatina. Depois, por não ter estressado com figurino, por ter decidido ir na última hora e, talvez pela falta de expectativa, ter me divertido MUITO. E, mais do que tudo isso, por ter tido ao meu lado companheiros "de antigamente", de memoráveis anos passados. Amigos que, ao contrário das roupas usadas, não têm cheiro de naftalina e, muito menos, saem de moda! "Sorria, meu bem!"

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Ode às descobertas

Caros leitores,

Peço licença a cada um de vocês para, hoje, quebrar o protocolo. Não estou afim de falar das minhas lembranças, tampouco inspirado para fazer uma crônica abstrata. Me deu vontade de falar de gente. Gente de carne e osso, como eu e vocês; com sentimentos, defeitos, manias, qualidades e sonhos. Um post com destino, nome e endereço!

Quero falar de uma menina-mulher que conheci a cerca de quatro anos. Cabelos ondulados, sorriso simples, pouca maquiagem. Uma garota que, em todos os invernos, se aprisiona num casaco cor-de-rosa e que, faça chuva, faça sol, sempre está no cantinho dela, entre telas e mouses, com olhos atentos para aquilo que o povo conclama.

Quero falar de uma moça que se desvendou para mim num memorável esbarrão, dentro de uma loja de shopping, e que desde então passou a atordoar meus pensamentos. Uma incógnita! Teria sido, aquele encontro, capaz de nos expor um ao outro? A partir daquele episódio, o que mudaria em mim, aos olhos dela? Isso eu não sabia; mas sabia que ela havia mudado diante do meu olhar. Só não sabia explicar se, desde então, ela era uma ameaça ou uma janela aberta para que eu visse além.

Estas linhas têm dona, e esta dona tem olhos doces e perspicazes. Silenciosa, ela aprisiona na memória os pequenos gestos, os relances, as bolas-foras de quem a cerca. É uma mulher que o tempo me ensinou a descobrir, a desvendar, pouco a pouco. Longe de ser extrovertida, ela faz da sua concha um calabouço para pérolas preciosas. E não estou falando de pérolas de "foras" ou gafes. Digo, mesmo, no sentido mais valioso - pois ela guarda em si uma essência genuína, de gente que gosta de gente, de ser humano que se cansou dos espelhos e busca, no outro, algo interior, forte, consistente.

A "musa" - se é que assim posso chamar - desse texto aprendeu a me conhecer de pouco a pouco. Um dia aqui, outro acolá. Ois, olás, boas tardes, e pouco a pouco o véu que nos separava passou a acobertar sonhos e palavras trocadas entre nós. A mesma aura que outrora representou insegurança, se transformou em ar compartilhado. De uns tempos pra cá, passamos a nos ver com mais frequência, a dividir pequenos detalhes de nossas vidas, a dar, um ao outro, motivos para querer mais e mais. Não por quantidade, mas pela qualidade de tudo que passamos a construir (e desnudar) juntos.

Hoje é o dia dela. Da dona das palavras de sobriedade que me são ditas quando divago em pensamentos distantes. Dia da autora de frases dóceis e firmes na medida certa, da companheira de desventuras e utopias confidenciadas nas horas vagas, nos restaurantes de comida japonesa. Hoje é dia de falar de carinho, de amizade, de bem querer. É, mais que em qualquer outro, o momento de deixar claro - com todas as letras -, que a vida se tornou mais colorida, divertida e gostosa desde que ela chegou.

A você, minha querida Débora.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Papel de estudante

Coisa gostosa era escrever em cartolinas brancas. Letra arredondada, medo de deixar as linhas tortas e cuidado para não marcar o papel com o lápis que riscava o caminho para as palavras expostas ao público. Era inovador ter réguas de letras de fôrma, daquelas em que A, B, C são peças separadas que têm de ser milimetricamente enfileiradas para formar frases inteiras. E, de vez em quando, vinha a raiva, porque a tinta manchou a régua e, com ela, foi-se o alvo do papel. Fazia parte!

Papel craft também tinha seu encanto. Por sobre o fundo pardo, ficavam bonitas as letras vermelhas e verdes. Os pincéis "Pilot" que deslizavam sobre a folha tinham um cheiro característico, mistura de álcool e corantes. Bastava encostá-los em uma das mãos e eram necessários bons minutos sob a água, com muito sabonete, para remover a manchas. Quem, naquela época, não perdeu tempo acrescentando fluido ao cartucho do Pilot, porque a tinta tinha acabado?!

Quando surgiu o papel-pedra, a revolução. Nunca mais as apresentações foram as mesmas. Maquetes, teatros, lembrancinhas... tudo foi tomado pelo cinza, que quanto mais amassado, mais cumpria a pétrea missão. Cinza que contrastava com os "fru-frus" dos bordadinhos feitos às margens das cartolinas, sempre tão coloridos. Os que sabiam fazer "margem bordada" com papel crepom eram disputados a tapa pelos grupos da escola. Só quem fez alguma sabe a inhaca que os dedos viram após o contato com cola e papel crepom. Era difícil acertar!!

Por falar em cola, e o cheirinho da Cola Tenaz? E das primeiras colas em bastão? Vinham em tubinhos vermelhos, a última palavra em modernidade.. Tinham um cheirinho tão suave, que ouso me lembrar delas com certa saudade. Sem perfume, e talvez já extintos, havia também os cadernos de matemática, que em vez de linhas, eram todos quadriculados. Ali se aprendia a por os primeiros numerais e a deixá-los num espaço razoável de distância. Eles eram "primos distantes" dos temidos cadernos de caligrafia - vedetes na época em que ter a letra redondinha e "bordada" era quase obrigação!

Ai, que saudade dos tempos da escola. Da
"história da abelhinha que perdeu a asa" (e me ensinou a escrever), das feiras de ciências, de geografia... dos trabalhos de literatura! Será que hoje em dia as crianças sabem o que é cartolina, papel craft, letra redondinha ou cartaz com margem bordada? Será que ainda há espaço, nas salas de aula, para treinar caligrafia, decorar a tabuada e "tomar distância" o coleguinha, na fila?

Jargões antigos, lembranças gostosas. Se eu tivesse filhos (e já falei disso aqui), iria gostar de reviver esses momentos sob uma nova perspectiva. Porque só depois que a gente cresce, é que vê como é gostoso representar, sem amarras ou tédio, o papel de estudante.

Revirando meu baú

Lembranças gostosas da infância sempre me fazem sorrir. E foi assim, sorrindo para o meu próprio passado, que fiquei ao dar uma espiada lá no canto dos "sapatinhos" da Larissa Pretti. Ela, que é uma prima mais-que-querida, despertou em mim pensamentos deliciosos, da época em que o Natal era sinônimo de Papai Noel e de bombons Serenata de Amor. As festas de fim de ano, lá pelos meus cinco, seis anos, tinham cheirinho de cloro (da piscina da casa da minha dindinha) e a certeza do abraço gostoso de gente que eu só via, se muito, uma vez por ano.

Da minha infância, uma das primeiras coisas que lembro, com nitidez, é de uma parede verde em um hospital, e uma porta de elevador ao fundo. Eu devia ter uns dois anos, foi na época da minha cirurgia para reconstrução do esôfago (episódio que, por si só, rende um blog inteiro!). Lembro da despedida do papai, em Manaus, em 1989. Eu chorava muito e estava no colo da mamãe. O quintal de terra batida, o táxi parado à nossa espera, a casa de madeira com uma luz amarela fraquinha... flashes na memória.

E a primeira briga na escola? Está devidamente guardada: na 1ª série, havia um coleguinha que me perturbava muito. Se chamava Raphael e, nunca me esquecerei, faz aniversário quatro dias depois de mim! Pois bem, um dia esse garoto me infernizou, nem lembro por que, e eu arremessei meu cantil d'água - cheio! - nele. Resultado: eu fui para a coordenação e ele perdeu dois dentes da frente!

Me recordo nitidamente de uma febre muito forte que tive, quando devia ter uns quatro, cinco anos, no máximo. Vovó Santa e eu, sentados, no sofá de couro marrom, já rasgadinho, na casa de Laranjeiras. Era tarde da noite, e na TV passava um filme em que a Cláudia Ohana fazia papel de cega. Adormeci no colo da vovó assistindo televisão. Dia desses descobri que esse filme realmente existe - e não foi um delírio meu! -; chama-se "As aventuras de um paraíba". Não sei porque isso ficou guardado na minha cabeça por mais de 20 anos.

Diferente dos outros meninos da minha idade, eu não brinquei na rua, não pulei muros, não matei passarinhos nem joguei futebol. Pelo contrário: sempre fui cercado de muitos cuidados, apostei muita corrida com outras crianças nos corredores dos hospitais, perdi as contas das vezes que tirei sangue ou tive que tomar soro. Os pontos pós-cirúrgicos, então... incontáveis!

Tudo isso valeu a pena e merece ser rememorado. Por que? Porque apesar de tudo - dores, agulhas, internações, cirurgias, limitações -, eu sabia que, no fim do ano, poderia comer bombons escondido na despensa da dindinha, e todas as enfermidades eram subitamente esquecidas. Ficou para mim a lição de que a vida pode ser, apesar de dura, divertida. e engraçada Basta não perder a essência de criança feliz que fica guardadinha no baú dos sentimentos!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sobre alfaces, tomates e bombons

De entrada, um Mc Cheedar. Para beber, Coca Cola, bem gelada. Em seguida, um mikshake de Ovomaltine. Seria perfeito, se não engordasse. Quem luta contra o efeito sanfona, como eu, há de entender: por que diabos tudo que é gostoso, engorda? Acho que Deus tinha que rever essa tal de Criação e promover uns ajustes!

Cá para nós: vocês conhecem alguém que salive de vontade ao pensar num pé de alface? Rúcula, então... o que é aquilo? Couve-flor ainda desce mas a tal da taioba é pedir pra chorar. Não há apetite que resista ao festival de verdes à mesa. Costumo dizer: "se eu quisesse comer mato, teria nascido boi". Exageros à parte, nada se compara a uma picanha bem cortadinha. Um salmão grelhado também é de fazer ajoelhar! Mas aí vem o dilema: o prazer desmedido à mesa acaba virando convite para visitar umas lojas plus size.

Todo mundo tem no guarda-roupa "aquela" calça jeans sob medida. Ela se torna, para a pessoa, uma espécie de melhor amiga, conselheira. Se ela está bem em você, sinal de que tudo está nos conformes. Mas basta ter que murchar a barriga para a bendita entrar, e o sinal vermelho acende. E é nessas horas, meu povo, que - como num passe de mágica -, legumes, verduras, fibras e iogurtes naturais passam a entrar no carrinho de compras com mais facilidade. Nem que, para isso, seja preciso fechar os olhos ao cruzar a seção de doces e chocolates.

Este ano, decidi encarar o desafio. Após um 2010 regado (e desregrado) a biscoitinhos, coxinhas, refrigerantes e miojo, passei a olhar os pés de alface e até uns tomatinhos com mais amor no coração. E não é que está dando certo? Além disso, descobri o prazer das caminhadas - não, não amo caminhar, mas tem lá suas vantagens (pelo menos vejo gente diferente, o mar, e ganhei uma corzinha saudável...). Em um mês, eliminei dois quilos e fiz as pazes com três calças jeans que, há meses, eram caso perdido.

Reduzi os doces, balas e bombons. Menos nos dias em que estou nervoso - há momentos em que só um
Serenata me acalma!. Na semana da Páscoa, comprei um ovo de chocolate e até agora ele está lá em cima da geladeira. É uma espécie de "troféu da superação". Confesso, estou doido para devorá-lo. Mas aí lembro que ainda há algumas bermudas lá no guarda-roupas, carentes e sozinhas, ansiosas pelo nosso reencontro...

domingo, 1 de maio de 2011

½ xícara de ponderação

Como um doce caseiro, daqueles que necessitam de horas ao fogo brando para chegar ao ponto certo e ser posto à mesa, também é necessário encontrar o "ponto" das nossas palavras e do que nos cerca. A vida precisa, ademais, de açúcar. Do contrário, pode se tornar amarga, salgada ou - ainda pior - sem gosto.

Às vezes olho ao redor e vejo como as pessoas pecam por excessos. Ora por açúcar demais, tendo uma visão melosa, melancólica, romântica demais de fatos que carecem objetividade; ora por salgar demais as palavras e os significados que poderiam ser saboreados com mais delicadeza. Gente que, não importa o tom, sempre vê na contestação uma afronta e, no silêncio, uma omissão.

E, meu povo, isso é tão normal! Todos nós temos nossos dias de cozinheiros inexperientes, dosando de forma equivocada os temperos do dia a dia. Independe da idade, da riqueza, da posição. Fato é que sempre há aquela quinta-feira mais cinzenta em que os bom-dias não soam verdadeiros e a chuva, ao invés de ser um bálsamo para o calor escaldante, será vista como inimiga da escova progressiva. Que fazer nessas horas?

Se a vida fosse uma grande Cozinha Maravilhosa da Ofélia, teríamos por perto um medidor para cada gesto. Seria fácil recomendar uma xícara de sorriso, duas colheres de bom humor, cinco pitadas de autoconfiança, 250g de sinceridade, dois tabletes de boa vontade, um quilo de bons relacionamentos. Tudo isso com essência de honestidade (ou de sensatez, a gosto).

Mas, não sendo a vida um livro vendido em bancas de revista, que tal apurarmos o paladar? Não sou bom de cozinha, mas penso que no excesso de açúcar ou sal, para tudo é bom acrescentar água. Por água, entendam doses desmedidas de autocrítica, de profunda avaliação pessoal sobre si. Talvez seja necessário mexer mais, apurar melhor o ponto. Mas vale mais a pena que por na mesa um prato que possa ser rejeitado pelos convidados!

E bom apetite.