terça-feira, 12 de abril de 2011

Você veste o que você não é

Há um ditado que diz "você é o que você come". Em termos de saúde, ainda vá lá, mas acho que similares não se aplicam. Por exemplo, não se pode dizer "você é o que você veste". Quantos doutores, de toga, andam por aí, por ruas escuras e escritórios-fantasmas, aliciando secretárias, comprando assessores, vendendo verdades? Da mesma forma, quantos "joões-ninguém" você conhece que, por mais simplórias que sejam suas Havaianas e mais puídos seus calções, lutam dia após dia pelos míseros R$ 545 que lhes devem, a fim de sustentar filhos, filhas e agregados?

A etiqueta não põe etiqueta. Digo, a marca da camisa que reluz na vitrine do shopping jamais dará ao seu comprador o mesmo brilho, a mesma pompa, se ele também não reluzir por dentro, na hombridade, na humildade, na autocrítica. O homem é o que sente, o que aprende, o que guarda dentro de si. E isso, perdoe-me Deus, não se vê a olho nu. Há pessoas que são de cambraia de linho por fora, mas de chita por dentro. Há crianças que, na mais feliz das idades, sorriem com rostos de pano barato. Por dentro, no entanto, guardam corações de verdadeira seda chinesa, daquelas pintadas a mão.

O pior ser humano é aquele que sobe no pedestal das vaidades, das luzes direcionadas com lâmpadas claras e office design de arquiteto famoso para, no fim, ser comprado por mixaria - mesmo estando em banca de grife. Essas migalhas da compra não necessariamente devem ser interpretadas como dinheiro. Há quem se venda à própria ilusão de "ser importante", à presunção de "sou bom". O ego inflado de um status imaginário que lhe foi conferido pelo bacharelado ou por um cargo de confiança.

E, pobres mortais, enquanto se preocupam com o público que os observa do outro lado da vitrine, se esquecem de olhar para o próprio umbigo. Lá vivem as traças que lhes roem o caráter.

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