sábado, 30 de abril de 2011

Dúvidas, exclamações e reticências

Tenho dúvidas bem grandes guardadas em mim. É difícil admitir, mas não é todo dia que consigo deitar a cabeça sobre o travesseiro e dormir rápido, em paz, com a sensação de que o dia valeu a pena. Muitas vezes rolo na cama por uma, duas horas, e acabo pegando no sono durante uma das batalhas comigo mesmo. Questões pessoais, profissionais, angústias e medos que, tomara Deus, não sejam só meus.

Por exemplo: quem nunca pensou em jogar tudo pra cima? Um emprego modesto (porém seguro), um namoro que não traz mais felicidade e calor no peito, aquele curso de inglês chatérrimo que só faz rodar CDs de pronúncia duvidosa. Que atire a primeira pedra quem nunca quis bater a porta do quarto para não ouvir as reclamações da mãe, quem nunca fingiu prestar atenção no esporro dado pelo chefe, quem nunca xingou baixinho para desabafar.

Não é fácil observar ao redor o mundo em constante evolução e, um dia ou outro, se sentir à parte de tudo. Na adolescência, muitos amigos meus viajavam para Porto Seguro. Eu, para alcançar o sonho, tive que empenhar um cordão e um pingente de ouro na Caixa (aliás, foram a leilão). Passei a faculdade sonhando com uma grande formatura, com direito a familiares e festa. Não tive nem parentes na plateia, nem festa. Há cerca de três anos, fui convidado para um jantar e passei uma hora e meio em absoluto silêncio, apenas sorrindo, cordial, enquanto os outros convidados revelavam aventuras nos Estados Unidos, Europa, em ilhas caribenhas...

Nessas noites de insônia e autoanálise, me pergunto se estou mesmo no mundo que sempre idealizei. Afinal, nos sonhos, posso estar onde eu quiser (e assim sempre foi). Neles, não há tragédias nas estradas, não há reuniões enfadonhas. Não sonho com pessoas traiçoeiras, com vaidades desmedidas, tampouco com cobranças infundadas. Estranhamente, é difícil também acreditar que o mundo possa ter graça sem essas desventuras. Ficaria sem sal!

Há um ditado que diz que "a grama do vizinho sempre parece mais verde". Pode ser. Talvez meus amigos nem tenham se divertido tanto assim em Porto Seguro, talvez uma festa cheia de parentes nem seja assim tão importante e, torço (cá entre nós) para que aquele bando de viagens e aventuras ouvidas no jantar sejam exageros de gente que, como eu, não tinha modo melhor para passar o tempo diante de figuras tão rasas.

E é por aí, entre interrogações e exclamações, que vou caminhando pelo meu jardim. Ele pode não ter o gramado mais bonito das redondezas, mas pode ser que, para meus vizinhos, eu esteja no melhor dos bosques. E quando o cansaço vem, quando os pés doem de tantas pedras no trajeto, o melhor mesmo é buscar uma árvore que me sirva de sombra e me ofereça um pouco de frescor. Nessas horas, nada melhor que as reticências...

Um comentário:

  1. Ahh..adoreii, eh a pura realidade DuzinhO! Essas coisas acontecem conosco e imaginamos q o outro vive num "mar de rosas" mtas vzes, pq sempre nossa cruz eh mais pesada!
    BeiijO

    Kênia Trevizani

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