domingo, 17 de abril de 2011

Quiosques, picolés e alegrias

Minha praia não tem quiosques. Não tem árvores frondosas, não tem carangueijos ou siris correndo sobre as cangas estendidas na areia. Minha praia pouca sombra tem. E mesmo assim, só quando uma nuvem gigantesca passa desafiando o sol, embaçando os raios quentes que, no chão, fazem arder os pés da gente.

Minha praia não tem quiosques, mas tem muitos vendedores. Tem a "tia das saídas", com panos esvoaçantes, cheios de estampas - tem verde, tem vermelha, de arco-íris; tem de miçanga e até de onça rosa!. Lá também tem o tiozinho da cerveja, sempre sorridente, que trata os banhistas como velhos conhecidos e corre da gente antes que a conta feche (e o lucro seja menor). Minha praia tem crianças fazendo castelinhos, e nesses castelos de areia elas constroem seus contos imaginários. São pequenos príncipes e princesas que dispensam cetro e coroa, mas que significam toda uma majestade para mães e pais que, vez ou outra, têm que sair correndo para buscá-los no quebrar das ondas.

Meus domingos ensolarados não têm quiosques. Perco as vantagens de uma mesinha bem posta, de uma sombrinha que me livre do excesso de sol. Não tenho, também, um garçon amigo me chamando de freguês. E, quer saber? Nem me lembro que os quiosques não existem. Porque minha praia é feita de gente. De risadas gostosas, de picolés de abacate, de água morna com "correntes frias que gelam a gente", de pedacinhos de algas que parecem pequenas flores boiando. Minha praia tem luz, mesmo quando o sol se esconde.

No mar, eu me encontro. "Nasci para isso!", vivo repetindo. Assistir o ir-e-vir das ondas me acalma, e penso em todas as pessoas que vêm e que vão, as que foram e que ainda estão por vir na minha história. Não levo revistas para a minha praia. Livros, então, passam longe. Quero ir à praia para escrever histórias, para imaginar o que se passa na cabeça dos outros. Quero ler a vida enquanto ela está sendo escrita, e me surpreender com a criança que surge do nada com sua pá de areia - uma verdadeira ameaça para a canga vizinha!

Volto a dizer: minha praia tem luz. É a luz das amizades bem construídas, leves como areia, mas bem mais resistentes e firmes que os castelinhos infantis. Minha praia não tem quiosques, mas tem gente gostosa. Gente que ri com o espírito, que ali se despe da seriedade costumeira e que, assim como eu, quer viver a vida, pegar sol, dividir alegrias e carregar consigo um pouquinho do calor e da energia do sol.

Sou neófito nesta turma. Estou, a pouco tempo, resgatando o tempo perdido. Tempo de ter cor de gente saudável, de construir laços, expandir horizontes. Esta sim é minha praia!

Um comentário:

  1. Gosto tanto de praia tbm! Texto bacana, gostoso de ler. Blog legal, estou seguindo.

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