quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pequenas singelezas

Chuva batendo na janela, cheiro de terra molhada, silêncio lá fora. Nos dias de sol, nuvens bem raras, brisa leve no rosto e MPB tocando, gostosa, no fone de ouvido. Na primavera, margaridas e gérberas. Da lua cheia à minguante, quatro semanas de olhos no céu, à procura de constelações e universos longínquos. Pés no chão.

Todos nós temos nosso cenário de paraíso. A sós ou acompanhados, criamos nossas fantasias, nossos sonhos - e, graças a Deus, muitos deles conseguimos realizar. Não importa se o idealizado é um encontro à beira-mar ou um simples balançar na gangorra de um parque. Se o sonho é grande ou pequeno, rico ou simplório, tanto faz. No fundo da alma, naquela conversa íntima que só conseguimos ter com nossa própria consciência, todos guardamos quimeras.

Que bom que a vida é assim! Não seria possível respirar num mundo que só vibrasse trabalho. Não haveria felicidade em dias que só fossem feitos de fatos irreparáveis, concretos. Impossível acreditar que aqueles que só desejam o que lhes é distante saibam quão gostoso é ser simples. A vida ganha mais cor quando a gente se permite flanar - sem cobranças, sem tanta seriedade.

Depois de um dia de trabalho, uma ligação especial. Durante uma viagem, um SMS de saudade declarada. Após uma forte tempestade, difícil não se comover com um pijama quentinho, dobrado sobre a cama. Para os pais, o sorriso de uma criança. Para as crianças, um pirulito, uma barra de chocolate, um abraço demorado e terno. Encarar a simplicidade é uma arte.

Mais que isso, viver de modo simples e sem tanto rigor se tornou desafio. Somos tão cobrados pela perfeição, e nos cobramos tanto por superação de metas (às vezes psicológicas, porque estamos quase sempre querendo nos convencer que somos bons), que às vezes deixamos de enxergar o óbvio: viver (bem) não requer tanto esforço!

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